Fui mãe aos 20 anos. Hoje quero partilhar a minha experiência do parto e, quem sabe, ajudar a aliviar um pouco o medo de quem ainda vai passar por isso.
Nos últimos dias de gravidez (já estava com 40 semanas) eu já só queria que ele nascesse. Não aguentava mais o barrigão… e que barrigão! A minha barriga ficou tão grande que infelizmente ganhei estrias. Mas pronto, faz parte.

Nunca senti ansiedade ou medo pelo momento do parto. Na minha cabeça, queria que fosse algo rápido e simples—tipo estar a andar na rua e pum, as águas rebentavam, íamos para o hospital e ele nascia logo a tempo. Mas, claro, não foi nada assim.

Ele não queria mesmo sair da sua mansão quentinha e cheia de comidinha boa, então teve que ser induzido. Mas mesmo a indução não aconteceu como planeado. No dia marcado, eu devia estar no hospital logo de manhã cedo… mas só acabei por ir às 5 da tarde (se bem me lembro). Quando cheguei lá, disseram que já não era possível induzir o parto naquele dia, mas que eu podia ficar a dormir no hospital. Óbvio que recusei—odeio dormir fora do conforto da minha cama!

Acabei por fazer apenas um CTG e descolaram-me as membranas para ver se as contrações começavam naturalmente durante a noite. Depois voltei para casa.

No dia seguinte, chegámos ao hospital por volta das 9h da manhã. Os pais do meu namorado levaram-nos e, assim que cheguei, fui direta para a ala das grávidas. Fui sozinha primeiro, porque às 10h um médico iria colocar um comprimido para induzir as contrações. Só depois disso é que o meu namorado pôde entrar para ficar comigo. Ele até me trouxe flores de LEGO! Sim, flores de LEGO 😂.

E assim começou o dia mais longo da minha vida. O meu parto durou exatamente 24 horas, das 10h da manhã do dia 21 até às 10h da manhã do dia 22. O meu namorado esteve sempre comigo, mas quando as contrações começaram a ficar realmente fortes, eu já chamava a enfermeira de 10 em 10 minutos para irmos para a sala do parto.

Antes disso, ainda tentaram ajudar-me a aliviar a dor—disseram para eu andar um pouco, porque isso podia acelerar o processo. Mas meu Deus, andar com aquelas contrações era uma missão impossível. Dava dois passos e, quando vinha uma contração, eu tinha que parar completamente. A dor era tão forte que dava vontade de chorar. Também tentei agachar-me, porque diziam que ajudava, mas era inútil. Qualquer posição parecia piorar ainda mais.

Ele ficou ao meu lado no sofá a noite inteira, mas apesar de ser eu quem estava cheia de dores, sem comer, sem dormir e a parir, era ele que parecia estar mais cansado… meu Deus

Quando fomos para a tal sala, deram-me a escolher se queria levar epidural ou não. Eu escolhi que sim.

Entregaram-me um papel com todas as informações e possíveis consequências da epidural. E, no meio das complicações listadas, lá estava… morte. Naquele momento, só pensei: “Espera… eu posso morrer??”

Contei ao Rodrigo, e acho que ele ficou tão chocado quanto eu. Mas logo me disse que era a minha decisão e que apoiava qualquer escolha que eu fizesse. Quando a enfermeira voltou, óbvio que perguntei sobre aquilo. Ela olhou para mim e disse que era algo tipo 1 em 1 bilião—podia acontecer, mas era tão raro que praticamente só estava ali por protocolo.

Aquilo tranquilizou-me um pouco, e enquanto olhava para o papel, tive uma sensação estranha de déjà vu… como se fosse um sinal do universo a dizer que ia correr tudo bem e que eu podia seguir em frente. E assim, assinei sem hesitar.

Curiosamente, eu nunca tinha pesquisado muito sobre a epidural porque sempre achei que ia ter um parto natural sem precisar dela. Ouvia dizer que podia causar complicações, então nem queria considerá-la. Mas, na minha cabeça, achava que era como um soro que ia no cateter do braço. Errado. Continua a ser um soro, sim, mas é injetado diretamente nas costas. E é um momento tenso, mas se ficarmos quietinhas e mantivermos a posição (sentadas com as mãos a tocar nos pés o mais para a frente possivel) corre tudo bem.

Outra coisa que eu pensava? Que a epidural ia fazer as dores das contrações desaparecerem completamente. Milagrosa, né? Mas não. Só alivia um pouco, o suficiente para me deixar dormir um bocado. E deixa-nos completamente dormentes da bacia para baixo—ao ponto de nem conseguir fazer xixi! Precisei de um cateter para esvaziar a bexiga.

E assim passei a noite, a ouvir os gritos de uma outra mãe a parir e a pensar: “Será que vai ser assim comigo também?”

Curiosamente, não tive aquele momento de “Oh meu Deus, é agora, ele vai nascer!”. Até hoje, ainda me custa acreditar que fiquei grávida, que pari e que agora tenho um filho. Não me bateu completamente.

De manhã, apareceu uma enfermeira—aliás, a enfermeira que ia fazer o meu parto. Lembro-me até do nome dela. O mais engraçado? O apelido dela era Jesus, exatamente o mesmo do Rodrigo. Coincidências da vida.

Ela foi ver como estava a situação e ficou surpreendida. Quando colocou a mão para avaliar, disse logo: “Ui, ele já está pronto para sair!” A cabeça já estava quase de fora!

O meu parto foi feito por dois médicos ambos foram super atenciosos, simpáticos e tranquilos. E, no geral, o meu parto foi muito calmo. Como estava dormente, não senti absolutamente nada quando ele nasceu. Só senti… algo a sair de mim e, de repente, a minha barriga a desinflar como um balão! Isso foi o que mais me surpreendeu.

Para ele nascer, foi preciso que um dos enfermeiros fizesse força na minha barriga para evitar que ele recuasse. Sei que, em alguns casos, isso pode ser considerado violência obstétrica, mas ele explicou-me o que ia fazer e eu concordei. Foi tudo tranquilo.

O mais engraçado? O espetador sentado no sofá a ver tudo! 😂 O Rodrigo ficou completamente à toa com o que estava a acontecer. Parecia paralisado!

Quando o Vicente nasceu, ele ainda não respirava. É normal, acontece, mas aqueles poucos segundos pareceram uma eternidade. O meu cérebro já estava a pensar em tudo e mais alguma coisa: “Vou perder o meu filho? O meu primeiro filho? A pessoa que carreguei estes meses todos?”

Mas, felizmente, ele começou a respirar. E a primeira coisa que fez quando o colocaram em cima de mim? XIXI! Sim, ele fez xixi em cima de mim no primeiro segundo de vida!

Ah, e segurar um recém-nascido? Meu Deus. É tão estranho. Parece que são as criaturas mais frágeis do mundo e dá medo de tocar neles! Mas habituamo-nos rápido rápido… 😆

Depois do parto, eles transferem-nos para outra maca. E meu Deus, ser movida com aquele cateter nas costas foi das coisas mais desconfortáveis e assustadoras que já senti. Ainda por cima, com as pernas dormentes, a sensação era horrível. E não, não pude simplesmente levantar-me e deitar-me na outra cama. Tive que, literalmente, rastejar até lá.

Depois, levam-nos para um quarto onde ficamos cerca de duas horas (passam rápido). O objetivo é ver se o leite desce e se o bebé mama. No meu caso? O meu leite não desceu logo. Na verdade, só veio três dias depois.

Finalmente pude comer, mas… sinceramente? Depois do que me deram para lanchar, perdi logo a fome. Nem consegui comer muito. A comida de hospital é supostamente saudável, mas não tem sal, não tem sabor, não tem nada.

Foi nessa sala que vestimos o Vicente pela primeira vez. E claro, a roupinha que tínhamos preparado não lhe serviu! Ele nasceu com quase 50 cm e já estava grande demais.

Como o meu leite ainda não tinha descido e ele também não pegava na mama—parecia estar a dormir tão bem—tivemos que dar leite artificial para podermos sair daquele quarto e seguir para o quarto onde eu ia ficar.

E agora, quando eu digo que os enfermeiros e médicos que me acompanharam foram impecáveis, acreditem em mim!

Quando tive que sair da maca para a cadeira de rodas, o médico ofereceu-se para eu pisar os pés dele porque a maca era muito alta! Foi um gesto tão pequeno, mas que fez toda a diferença naquele momento.

Precisei da cadeira de rodas porque, depois do parto, perdemos muito sangue e podemos ficar tontas. E claro, foi exatamente o que aconteceu quando tentei levantar-me para ir para a minha cama. Quase fui parar ao chão! Mas o enfermeiro não me deixou cair e ainda me ajudou a pôr as pernas para cima, apoiando-as nos ombros dele e tudo.

A sério… não sei como é que eles conseguem ser tão prestativos com pessoas que nem conhecem. Mas enfim, ele já viu mais do que muita gente… que horror.

Depois disso, vêm os dois dias obrigatórios no hospital. Eles fazem testes ao bebé e também a nós. Mas o pior? Os namorados não podem dormir connosco. Nem sequer podem sentar-se na nossa cama!

As visitas eram entre as 10h e as 18h (ou 20h, já nem me lembro bem), e nesse tempo, eu e o Rodrigo basicamente víamos séries no tablet.

O que aprendi com esta experiência?

Bem, a primeira coisa é que o parto nunca acontece como imaginamos. Eu achava que ia ser super rápido. Mas a realidade foi bem diferente!

A dor das contrações é surreal! Eu pensava que conseguia lidar bem, mas quando começaram, eu só queria parar e chorar de dor. E mesmo quando tentei encontrar uma posição melhor, nada ajudava.

Sobre a epidural, pensava que ia tirar toda a dor… mas não, só aliviou um pouco e deixou-me dormente da bacia para baixo o que foi uma enorme ajuda na hora do parto.

O apoio que temos faz toda a diferença. O Rodrigo esteve sempre comigo, mesmo parecendo mais cansado do que eu depois de uma noite inteira de contrações! E ter uma equipa competente e empática ajuda uma situação dificil como aquela a passar leve.

O momento mais assustador foi quando o Vicente nasceu e não respirou nos primeiros segundos. Na minha cabeça, já estavam a passar-se os piores cenários possíveis. Mas depois ele respirou e… a primeira coisa que fez quando o puseram em cima de mim? Fez xixi! 😅

No final, aprendi que o parto não é fácil, mas também não é um monstro de sete cabeças. Cada mãe vive esta experiência de forma diferente, e a verdade é que tudo vale a pena quando olhamos para o nosso bebé. 💙

Se estás com medo do parto, respira fundo e lembra-te: o teu corpo sabe o que fazer, e no final, vais segurar o teu maior amor nos braços

Gostava que me contassem os vossos medos ou como imaginam que vai ser/foi o vosso parto, aqui nos comentarios.

Com carinho,
Elvira 🌸

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